Novo tratamento promissor para lesão cartilaginosa permite retorno a esporte
Grande desafio da medicina esportiva, problema é comum em joelho de atletas. Em alguns casos, os atuais tratamentos não solucionam definitivamente a contusão
As lesões cartilaginosas no joelho são frequentes nos esportes. Tanto através de contusões, entorses, micro-traumas de repetições, quanto danos a ligamentos, meniscos e à cartilagem, tecido composto basicamente por colágeno tipo II e água que tem potencial de cicatrização muito limitado. Ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, a cartilagem tem pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (avascularidade) e é aneural, ou seja, não possui terminações nervosas.
A lesão cartilaginosa no joelho resulta em deformidades, dor e limitação de movimentos (Foto: Getty Images)
De acordo com estudos laboratoriais, a lesão cartilaginosa aparentemente libera mediadores inflamatórios dentro da articulação no momento de sua ocorrência, iniciando um ciclo vicioso autoperpetuante de morte celular e liberação de mediadores nocivos, o que resulta na redução da profundidade articular. Havendo perda estrutural, haverá, invariavelmente, distribuição anormal de peso entre os ossos, que resultará em deformidades, dor e limitação de movimento.
Este processo também é conhecido como osteoartrose. Isso, sem dúvida, leva a limitações importantes no esporte, fazendo com que a lesão cartilaginosa seja o grande desafio da medicina esportiva da atualidade. No decorrer dos anos, foram desenvolvidas muitas técnicas cirúrgicas que estimulassem a cicatrização e o reparo da cartilagem articular, mas nenhuma se mostrou 100% eficaz. O raciocínio de que uma reposta inflamatória eficiente poderia se desenvolver, não da cartilagem lesada, mas do osso abaixo dela (conhecido como subcondral) levou ao desenvolvimento da espongilização, drilling e micro-fraturas. Elas são "raspagens" ou perfurações múltiplas, causando sangramento e, consequente cicatrização. Observou-se, no entanto, que o defeito cartilaginoso é preenchido não por tecido cartilaginoso, mas por fibrocartilagem, rica em fibras colágenas tipo I, com propriedades biomecânicas diferentes da cartilagem hialina articular.
A cartilagem é um tecido composto basicamente por colágeno tipo II e água (Foto: Getty Images)
O paciente ideal para este procedimento são pessoas com idade acima de 40 anos, com múltiplas lesões, ou atletas de alta demanda com lesões pequenas, menores que 1cm. Esta técnica se tornou consagrada nos últimos 15 anos e tem como grande vantagem a possibilidade de ser feita por via artroscópica, muitas vezes com a possibilidade de alta hospitalar no mesmo dia.
Estudos publicados em revistas de impacto cientifico têm reportado que, apesar de eficaz na maioria dos casos, a taxa de falha e recidiva de sintomas aconteceria em dois anos, em média. Um dos fatores para que isso aconteça seria o crescimento desordenado das células tronco que migrariam das perfurações ósseas e com uma tendência maior na formação de cicatriz fibrosa (colágeno tipo I) e menos cartilagem hialina (colágeno tipo II).
Recentemente, o uso de biomembranas tem se tornado popular no arsenal do tratamento de lesões cartilaginosas entre cirurgiões de joelho. O intuito é criar uma proteção para que as células que migram das perfurações ósseas não se difundam para dentro do fluido sinovial e também protegendo-as de impacto mecânico. A técnica possui a desvantagem de ser realizada por cirurgia aberta, sendo mais agressiva e com consequente maior tempo de reabilitação.
Apesar de ser uma técnica ainda nova, os estudos recentemente publicados têm encorajado a comunidade cientifica. Ela estaria ligada à produção de tecido cartilaginoso de melhor qualidade e estável. Assim como em outros procedimentos, as biomembranas passarão por aprimoramento, visando serem menos agressivas e, em um futuro próximo, realizadas por videoartroscopia.
SAIBA MAIS
Recuperação pós-operatóriaPara melhores resultados, aconselha-se o uso de muletas por quatro a seis semanas (às vezes mais) sem soltar o peso no membro onde o joelho foi operado. Por se tratar de uma cirurgia aberta e, portanto, mais agressiva, os estágios iniciais da reabilitação incluem controle da dor, ativação muscular para prevenir a atrofia do músculo anterior da coxa e manutenção do arco de movimento do joelho. Quando possível, pode-se utilizar a máquina de CPM (Continuous Passive Motion), que mantém a flexão e extensão fisiológicas e contribui com o re-crescimento ideal da superfície articular. Os estágios seguintes incluem o fortalecimento e o reequilíbrio musculares, e o retorno supervisionado ao esporte.
Referências bibliográficasPeterson, L : Technique of Autologous Chondrocyte Transplantation[Technique].Techniques in Knee Surgery (C) 2002 Lippincott Williams & Wilkins, Inc.Volume 1(1), September 2002, pp 2-12.
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Andrade, A L L: Expressão do fator de transcrição HIF-1 em condrócitos cultivados em condições normais de oxigênio. Dissertação de mestrado apresentada à pós-graduação da faculadade de ciências médicas de universidade estadual de Campinas. 2006.
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Giannini, S.; Buda, R.; Grigolo, B.; Vannini, F. autologous chondrocyte transplantation in osteochondral lesions of the ankle joint. The Journal of Bone and Joint Surgery-British Volume (C) 2005 British Editorial Society of Bone and Joint Surgery.Volume 87-B Supplement I, 2005, p 59.
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*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com
ADRIANO LEONARDI
Médico ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Ambientes Remotos e Esportes de Aventura. www.adrianoleonardi.com.br
Médico ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Ambientes Remotos e Esportes de Aventura. www.adrianoleonardi.com.br